sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sem título

Preciso de ar
sinto como se estivesse afundando nas águas profundas e transparentes de um rio tempestuoso
falta ar
falta vida
falta amor
falta fé
Lembranças que não foram digeridas
Faces que ainda não se foram
nuvens que ainda pairam aonde deveria brilhar o sol
sem refúgios, se entrega ao vazio de um olhar aflito
não é essa sua natureza
Bastaria uma grande alegria.....na verdade há, mas nada terá cor até que encontre novamente um caminho que valha a pena percorrer
se perde em meio ao rock libertador
à partilha de sentimentos tão semelhantes
como se a dor pudesse ser repartida e assim diminuída
a alma se desprende como num sono profundo e vaga pelos recônditos de uma essência agora perturbada pela incompreensão da natureza, pela busca mal sucedida de respostas para perguntas tão complexas, pela insônia que a prende numa cela cujas grades são tênues como amor e ódio
olhos nervosos, sem brilho, ainda há uma esperança, algo que floresce sem pedir licença, sem ser solicitado
e a natureza concede seu milagre
para que um novo cenário seja descoberto
para que a vontade de continuar volte por uma boa razão
a brasa nunca desiste, aquela que habita nossa escuridão e nos faz continuar ainda que pelo desesperado medo de morrer e não ter vivido tudo que gostaria
entregue a um amor difrente do que pediu, desconcertante, gratuito, imparcial, somente amor
cega às oportunidades, não cede
quer mais
quer o amor que emoldurou, o amor que sonhou, o amor que iludiu
medo do amor incondicional.....da última vez ele trouxe a fragilidade da vida....a morte prematura (ou não?), a incompreensão do que é vida
despejou caos em suas vestes
mas nada mudou
a natureza trata de acionar seus mecanismos para não nos deixar fugir do que tememos
na escuridão de uma mente moram os fantasmas de sentimentos e pessoas que nem se foram
vive a incerteza num rio negro
escorre como sangue o desejo de romper as amarras
e se libertar
ainda que desconheça esse lugar inóspito que encontra agora diante de si
talvez seja melhor abrir os olhos de verdade e se mover
fazer crescer o verde que se foi, que afundou em lágrimas
fazer brilhar o sol que se pôs
dar à luz à vida que cedeu lugar à questão, à incerteza
que nada se emoldure
mas surja e simplesmente seja
como um dia do nada começa a bater o coração de um novo ser
sem a cola que gruda as pessoas aos preconceitos, padrões, celas de uma prisão sem guardas
que o amor que surgiu, ainda que não como queria, seja o alimento dessa brasa que precisa se transformar em extensa e viva fogueira
a exortar fantasmas desnecessários
a fazer viver um recomeço
nunca tardio
sempre mutante

um texto sem título
uma chance para dar o próximo passo